
Morador de Butiá, o renomado músico nativista, Juliano Javoski contabiliza mais de 400 músicas gravadas e seis CDs lançados, sendo premiado em dezenas de festivais famosos. Completando 35 anos de carreira, nossa equipe conversou com o artista, que nos contou um pouco da sua trajetória e sua carreia na música, sendo um dos mais respeitados músicos do cenário cultural gaúcho.
Fascinado por música e história desde a época de colégio, Juliano sempre foi uma criança curiosa que gostava de ler e pesquisar.
- Eu não era um bom aluno, mas sempre muito curioso, revela.
Aos seus 13 anos começou a escutar chamamé. Quando chegava da escola, ia correndo ligar o rádio da avó e sintonizar em rádio argentina só para ouvir aquele ritmo que tocava sua alma.
- Mesmo não entendendo bem o que era dito nas canções, achava elas lindas, contou o músico, que também ouviu muito durante a infância Teixeirinha e Gildo de Freitas.
Com 21 anos viajou para a Argentina, e lá viu o quanto o povo valorizava a cultura aborígene local, onde qualquer rio ou cidade era batizado com indígena. Voltando para o Rio Grande do Sul, ele começou sua carreira na cidade de Rio Grande, se inscrevendo nos primeiros festivais de música nativista. Em dois anos teve a sua primeira música premiada.
- É difícil parar de participar de festivais, depois que a gente começa. Já participei de triagens disputando com mil, e acabei passando entre as 20 melhores, nos disse entusiasmado.
Depois que consolidou suas músicas em festivais, Juliano começou a viajar pelo RS e em função do seu trabalho na área de pesquisa do chamamé, gostava de ir até a Argentina só para assistir os festivais de música em que o ritmo era a principal atração. Juliano nos revelou uma curiosidade particular dele: em todas as cidades que visita ele vai até o cemitério, pois segundo sua visão, a história da cidade começa ali.
Em 2010 foi convidado a cantar pela primeira vez em um festival de chamamé no país vizinho. Logo após, foi convidado a participar da “Fiesta Nacional de Chamamé”, a qual tem um público de 20 mil pessoas, em dez noites de evento. Depois disto, sua carreira extrapolou o eixo Brasil-Argentina. Juliano passou a fazer apresentações no Uruguai, no Paraguai, e no Peru, onde em 2018, a convite do Departamento de Cultura de Corrientes, foi convidado a ministrar uma palestra sobre o chamamé.
- Além da música, sempre carrego comigo a paixão pela pesquisa e a cultura, não só do RS, mas também de toda a América do Sul. Às vezes as pessoas me veem apenas com um tradicionalista, eu não me vejo como tradicionalista, o tradicionalismo para mim é apenas uma cadeira dentro de tudo que faço, diz Juliano.
A pesquisa é a base de tudo para ele, não só pela curiosidade, como nos contou, mas como forma de entender o que ele mesmo canta, seja nas suas composições ou nas de outros autores.
- Vou no festival e canto um tema, por exemplo, uma das últimas músicas que eu fiz “Estaqueada”, ela relata como se estaqueia o couro artesanalmente para secar. E aí, quando desço do palco e alguém vem me entrevistar: Como é isso de estaquear o couro? Eu preciso saber explicar, e para explicar eu preciso ter conhecimento, exemplifica Juliano.
35 ANOS DE CARREIRA
Sobre as ideias e projetos para comemorar os 35 anos de carreira, ele nos contou que seria o lançamento de seu livro “Caraí Chamamé” pelo Brasil. O livro já foi lançado em 2019 aqui no Rio Grande do Sul e na Argentina, mas em 2020 ele iria no Mato Grosso do Sul levar seu livro, e fazer o lançamento por lá, e também participaria da Feira do Livro de Passo Fundo.
- Seriam vários momentos para a comemoração, mas com a pandemia as comemorações precisaram ser adiadas. Em função disso, utilizei do mundo virtual, fiz algumas lives, mantenho atualizado meu canal no Youtube, e sigo compondo novas músicas, resgatando algumas antigas até tudo isso passar, explicou.
FESTIVAL COXILHA NEGRA
Juliano relembrou com saudades do Festival Coxilha Negra, que nos anos 90 foi considerado um dos maiores festivais de música nativista do RS, e acontecia aqui em Butiá.
- Fui um dos fundadores do Coxilha Negra. Durante um bom tempo fez muito sucesso no Estado. Foram sete edições consecutivas, parou por uns 10 anos, foi retomado por mais algumas edições, mas infelizmente acabou. Foi um momento histórico para Butiá! Para mim, se tratando de cultura, foi o momento mais relevante para Butiá, a Administração Municipal da época defendeu muito a questão da cultura, lembra.
Segundo Juliano, na época não existia a Lei de Incentivo à Cultura (LIC), que hoje em dia patrocina muitos eventos culturais. Todo valor conseguido para realização do evento era através dos organizadores do evento batendo de porta em porta no comércio local, pedindo a contribuição e o apoio.
- Acontecia de chegar 20 dias antes do evento e não ter todo o orçamento. Então tinha que correr atrás, era emocionante, perdíamos muitas noites de sono. Mas conseguíamos fazer, e era um sucesso, nos contou com sorriso no rosto.
Ele lembrou que o festival aceitava dois estilos musicais: o estilo nativista e a linha popular (rock, samba, outros estilos), onde foi o primeiro festival do estado que abriu precedente para essas duas linhas. Lembrou também, que o Coxilha Negra foi o primeiro festival a implantar a fase local, onde havia uma noite apenas para os artistas da cidade disputarem, podendo ter igualdade na hora de disputar uma vaga para a final com os artistas renomados que participavam.
- Ás vezes o pessoal local reclamava de não passar nas triagens, pois vinham muitos artistas de fora, e então foi realizada a fase local, onde abrangia apenas os artistas daqui. Me sinto muito orgulhoso por ter feito parte desse processo. Lamentável que o festival tenha se acabado, mas muitos outros também acabaram, lamentou.
Juliano lastimou também, que, infelizmente as pessoas acabaram deixando a tradição um pouco de lado, e não levam mais tanto em conta suas raízes. De acordo com ele, os festivais também eram rentáveis para a cidade, desde a parte de alimentação até a parte de hospedagem para artistas e equipe que vinham de fora.
- Os festivais foram muito importantes para a música regional. Resgatavam a cultura tradicional, começando a puxar mais o tradicionalismo, sendo através dos festivais que foram lançados vários nomes importantíssimos da música gaúcha, concluiu.
Pensando no futuro, Juliano contou que nos poucos festivais que conseguiram resistir ao tempo, não houveram uma mudança no sistema de competição, mas, segundo sua visão, poderiam mudar o formato, fazendo mostras de músicas, com cantores que começaram ali, ou que vão começar.