Especial Histórias - Jornal Meta News ed. 125
A história que vou contar é de uma mulher, que embora nascida em Porto Alegre, deu seus primeiros passos em Minas do Leão e atualmente está residindo em Brasília, mas para chegar onde está, tem coisa pra contar que dá um filme, acho até que no estilo de Almodóvar.

Peço licença aos nossos leitores para compartilhar essa história de uma pessoa que é da minha família, bem próxima inclusive, minha irmã do meio, a Maite Curio de Mattos, vulgo Teca. E claro que eu escrevi esta história ouvindo Pearl Jam, o show que ela já se abalou várias vezes para assistir, para me inspirar ainda mais.
E não é apenas porque é mês das mulheres, onde a gente sente vontade de falar de mulheres de fibra, que já passaram por vários perrengues nesta vida, mas que estão aí, para ajudar e apoiar outras pessoas, outras mulheres. E tem muitas coisas por este caminho de vida dela, que podem inspirar outras pessoas a continuarem firmes em suas caminhadas.
E como a maioria das histórias iniciam pelos nossos pais ou pessoas que serviram de referência de alguma forma, ela nos contou um pouco sobre essas recordações
-Tenho ótimas lembranças da vida no campo, morávamos na fazenda, da criação que meus pais me deram, que foi simples, mas muito carinhosa. Tenho ótimas referências, aquelas festas de família na fazenda, com as tias tomando banho de sol e um agito constante nos verões. Da comidinha da Tania e dos doces, de comer massa crua de pão e cobertura para bolo de chocolate (meleca) com a Tanise, após almoço.
Mas a minha lembrança mais forte foi a relação direta com a realidade dos homens e mulheres no campo, das desigualdades e como eles reagiam à esses processos inseridos em um meio rural (latifúndio), isso foi o início da minha formação de um senso de justiça social e de todas as injustiças. Junto com as memórias da Dona Tânia sobre seu pai, meu avô materno que só conheci pelas histórias, mas que sempre digo que, de uma forma "hereditária", passou pelo sangue o amor pela política desde muito cedo. Conta, a Teca.
A infância e adolescência da Teca, foi em Minas do Leão, naquela época o pai, Ruy de Mattos, era administrador de uma fazenda que ficava há 5 quilômetros da cidade.
- Minas do Leão, apesar de uma cidade ultraconservadora e fechada, foi onde fiz boas amizades com as pessoas certas, as pessoas fora do circuito do conservadorismo local que me renderam muitas tretas, muitas loucuras e risadas. Na escola fui aquela que tocou na banda, que na época era super, e líder de turma para organizar a famigerada excursão a Gramado. No resumo fui uma adolescente atípica numa cidade atípica. Nessa época, eu imaginava ser tudo no futuro. Mas logo que tive a noção real das relações sociais, me apaixonei pelo jornalismo, pelo jornalismo militante e pela comunicação política. Dentro da estrutura política, informamos e fazemos parte de algo maior, ao mesmo tempo. É um sentimento de pertencimento muito grande.
Na verdade, a política está no sangue da família Carvalho Curio desde a época dos bisavós e avós, o que certamente fica em alto relevo na personalidade da Teca.

- Desde muito cedo, sem ter a consciência do que era política, na convivência com as injustiças sociais e com o que achava que deveria ser um mundo melhor para todos e todas. Lembro cedo de participar das primeiras eleições municipais (Leão), após o município ser emancipado. De "fazer campanha" sem saber o motivo, mas sentir que aquilo fazia parte da minha essência. Uma lembrança forte foi matar aula para ir em atos políticos na cidade, daí foi "ladeira abaixo". Não teve mais volta.
E apesar de parecer “avoada”, ela conta que do jeito especial dela tem consideração e carinho pelos seus e uma forma particular, mas carinhosa, de demonstrar isso. E também conta do período em que se tornou mãe, e a prioridade foi a filha e de como ela não se arrependeu disso.
-Me considero uma pessoa parceira, amiga e muito família, do meu jeito. Mesmo esquecendo todos os aniversários de pessoas da família e precisar ser lembrada deles a toda hora (risos). Fui mãe cedo, optei por dar uma pausa na vida profissional, e foi um boa escolha pois tive a oportunidade de ver minha filha crescer de perto.
Mas com a Maria Antônia, virando uma mulher adulta, cheia de atitude e começando a trilhar seu caminho, a vontade de voltar ao meio profissional aflorou, mas a essência política gritou mais alto e então a Teca, desabrochou.
- Enfim, retomei minha vida profissional depois de um tempo e entrei na comunicação política fazendo a parte de assessoria em campanhas e aquilo foi fazendo cada vez mais sentido, inclusive para aprender a ser um ser político mais equilibrado. Minha última campanha foi a majoritária para o governo do estado, com o candidato Edegar Pretto, que teve uma disputa acirrada com Eduardo Leite, e quase foi para o segundo turno, percorremos o Rio Grande todo e foi umas das melhores experiências profissionais. Disto resultou o convite para vir trabalhar em Brasília, continuar a contribuir na assessoria do agora presidente da Conab, Edegar Pretto e também como jornalista, na EBC.
A Teca como a maioria das mulheres passou por vários altos e baixos, porque o mundo lá fora não é bem como a vida na fazenda, nem a convivência com pessoas de uma cidade, na época pacata, do interior. Mas ela declara como está neste momento de reconstrução, em outro estado, sozinha, fazendo amizades novas, com a família longe, sem os cachorros e gatos que ficaram no apartamento no Rio Grande do Sul.
- Aqui o desafio profissional é gigante e a honra em estar participando de alguma forma deste momento histórico que passa nosso país, de reconstrução e retomada da democracia. Brasília é uma cidade de muitos sotaques e muitas culturas, e está sendo muito boa a adaptação com a ajuda de todos que vieram com a mesma missão, muita união de todos aqui criando um clima de muito empenho trabalho e solidariedade.
E mesmo tendo que lidar com a saudade da minha filha, e da minha família, dos amigos que lá ficaram, que era um lugar confortável, mas que agora entendo que eu precisava focar no que eu sinto que devo fazer, no que eu gosto de fazer e me sentir em paz. O que posso deixar de recado para vocês, é que sempre existe um caminho melhor, tem luz no fim do túnel e você encontrará pessoas para te dar a mão nesse caminho.
