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Querer x dever



Desde a mais tenra idade, somos confrontados com duas alternativas que, frequentemente, se opõe: querer x dever. Enquanto somos dependentes dos nossos pais, usualmente eles tomam essas decisões por nós, nem sempre de acordo com a nossa vontade. Podem, por exemplo, nos proibir de usar o celular exigindo que estudemos para uma prova importante ao nosso progresso escolar.


No livro ‘Ética Para Meu Filho’, Fernando Savater cita o caso das térmitas africanas, que edificam formigueiros admiravelmente grandes e fortes. Elas são bastante frágeis porque tem o corpo mole, desprovido da carapaça de quitina. Daí a necessidade de construírem aquelas fortalezas. Mas uma chuvarada ou um elefante desastrado pode fazer desmoronar um flanco do formigueiro. Imediatamente, as operárias começam a reformar o forte, mas as formigas invasoras vem no ataque, e as térmitas guerreiras saem para conter as agressoras. Como são menores e mais fracas, sua única estratégia é se dependurar nas inimigas para lhes atrasar a invasão, mas vão sendo estraçalhadas pelas outras. As operárias fecham o formigueiro, mas deixam milhares de soldadas do lado de fora para serem sacrificadas pelas invasoras.


No ambiente natural, as espécies não tem escolha senão cumprir aquilo que lhes é determinado pela sua natureza de ser. Para esses seres existe apenas o dever. O ser humano tem essa possibilidade de opção entre o dever e o querer, quando estes não estão alinhados. A qualidade dessas escolhas, às vezes difíceis, é que vai nos encaminhar para uma vida mais ou menos penosa, que nível de prosperidade vamos alcançar, e o quão felizes conseguiremos ser. Mas isto depende de cada um, de acordo com a sua história, suas crenças e valores, seus princípios morais, e capacidade de discernimento. O que não vale é tentar apontar culpados pelos eventuais fracassos, porque as decisões são nossas, tão somente. É de caráter volitivo, sempre. Se nos equivocamos, melhor analisar quais escolhas não foram apropriadas e guardar como lição para situações futuras.


Amiúde, optar pelo dever em detrimento do querer pode ser mais custoso, mas nos outorgar magníficas noites de sono. Como bem ensinou o príncipe Sidarta: “Ninguém mais além da própria pessoa pode ajudar a si mesma. Somos a maior causa dos nossos problemas, logo, cabe a nós atuarmos em favor da sua resolução”. Não era ao acaso o aforismo na antecâmara do Templo de Apolo, em Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”.







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